O panda-gigante ou urso-panda (nome científico: Ailuropoda melanoleuca, do grego: ailuros, gato + poda, pés; emelano, preto + leukos, branco) é um mamífero carnívoro da família Ursidae endêmico da República Popular da China. Ofocinho curto lembrando um urso de pelúcia, a pelagem preta e branca característica e o jeito pacífico e bonachão o tornam um dos animais mais queridos pela humanidade. Extremamente dócil e tímido, dificilmente ataca o homem, a não ser quando extremamente irritado. O urso panda foi descrito pelo missionário francês Armand David em 1869 como Ursus melanoleucus.2 No ano seguinte,Alphonse Milne-Edwards ao examinar o material enviado por David, notou que os caracteres osteológicos e dentários o distinguia dos ursos e o aproximava ao panda-vermelho e aos procionídeos, descrevendo então um novo gênero para a espécie, e recombinando-a para Ailuropoda melanoleuca.3 No mesmo ano, Paul Gervais concluiu com base num estudo das estruturas intracranianas que o panda era relacionado com os ursos, criando um novo gênero, o Pandarctos.4 Em 1871, Milne-Edwards acreditando que o gênero Ailuropoda estava pré-ocupado pelo Aeluropoda de Gray, publicado em 1869, propõe o nome Ailuropus. William Henry Flower e Richard Lydekker em 1891 emendam o novo nome de Milne-Edwards para Aeluropus,5 resultando em uma considerável confusão na literatura subsequente.6
A classificação do panda-gigante têm sido objeto de grande controvérsia por muitos anos, principalmente pelas características compartilhadas com o panda-vermelho, como semelhanças nas estruturas craniais, dentárias, viscerais e da genitália externa, assim como a presença do osso sesamoide opositor na mão (falso-dedo).7 Inicialmente tratado como urso, e posteriormente relacionado com o panda-vermelho e os procionídeos, a espécie sofreu reposicionamento taxonômico diversas vezes no decorrer dos anos. Em 1885, George Jackson Mivart revisou os carnívoros artóideos posicionado tanto o Ailurus como o Ailuropoda na família Procyonidae.8 Flower e Lydekker 1891, dividiram os gêneros, deixando o Ailurus na Procyonidae e movendo o Ailuropoda para a Ursidae.5 Em 1895, Herluf Winge relacionou o panda a um gênero extinto, o Agriotherium.9 Em 1901, Ray Lankester e Richard Lydekker reafirmam o posicionamendo de ambos os gêneros entre os procionídeos, separando-os na subfamília Ailurinae.10 11 Reginald Innes Pocock em 1921 revisou a Procyonidae, separando os dois gêneros em famílias distintas, Ailuridae e Ailuropodidae.12 William Gregory, em 1936, ao examinar características craniais e dentárias dos dois pandas e de outros gêneros extintos, retorna os dois gêneros a família Procyonidae.13 George Gaylord Simpson em sua classificação dos mamíferos de 1945 mantém o posicionamento defendido por Mivart e demais autores que colocam os dois gêneros de pandas entre os procionídeos.14
Em 1956, Leone e Wiens analisando proteínas sorológicas concluem que o panda-gigante é um ursídeo.15 Em 1964, Davis mantém o Ailuropoda entre os ursos, baseado na morfologia geral das espécies.6 Numa revisão de 1978, a espécie é posicionada na tribo Ailuropodini pertencente a subfamília Agriotheriinae.7 Erich Thenius, em 1979, ressuscita a família Ailuropodidae para o gênero Ailuropoda.16 Em 1985, a subfamília Ailuropodinae é arranjada dentro da Ursidae.17 No mesmo ano, outro autor, volta a relacionar os dois pandas, indicando que os gêneros podem ser arranjados em famílias distintas mas muito próximas ou então na mesma família, a Ailuridae.18 Em 1993, a segunda edição do Mammals Species of the World posiciona os dois gêneros na subfamília Ailurinae dentro da Ursidae.19 Mas em 2005, na terceira edição, desfaz o arranjo, elevando o Ailurus a família Ailuridae, e voltando o Ailuropoda a família Ursidae, mas sem reconhecer nenhuma subfamília.20 Outros autores, entretanto, classificam o gênero na tribo Ailuropodini da subfamília Ursinae,21 22ou então na subfamília Ailuropodinae23
Duas subespécies são reconhecidas com base em medidas craniais distintas, padrões de coloração e genética populacional:24
O panda-gigante está confinado ao centro-sul da China. Sua distribuição atual consiste em seis áreas montanhosas isoladas (Minshan, Qinling, Qionglai,Liangshan, Daxiangling, e Xiaoxiangling), nas províncias de Gansu, Shaanxi e Sichuan. O território total que a espécie ocupa é de aproximadamente 30 000 km² entre 102-108,3°E (longitude) e 28,2-34,1°N (latitude),1 entretanto, somente 20% dessa área (5 900 km²) constitui habitat para o panda.25
A espécie originalmente ocorreu em mais regiões ao leste e ao sul da China, com registros fósseis indicando sua presença até o norte de Mianmar e norte doVietnã, ao sul, e até as proximidades de Pequim, ao norte. Até 1850, o panda era encontrado no leste de Sichuan e nas províncias de Hubei e Hunan. Em 1900, foi restrito as Montanhas Qinling e outras áreas montanhosas no limite do platô tibetano. A rápida expansão da agricultura nos principais vales contribuíram para a fragmentação
Os pandas habitam as florestas temperadas montanhosas com densos bambuzais, principalmente do gênero Sinarundinaria, entre altitudes de 1 200 a 4 100 metros de altitude. A distribuição sobrepõe-se em muito a do urso-negro-asiático (Ursus thibetanus), entretanto, eles não competem entre si, pois as necessidades ecológicas das espécies são diferentes.1
Ficha técnica26 | |
Altura | 65 - 70 cm |
Comprimento | 120 - 150 cm |
Cauda | ~13 cm |
Peso | 75 - 160 kg |
Tamanho de ninhada | 1 - 2 |
Gestação | 97 - 163 dias |
Desmame | 8 - 9 meses |
Maturidade sexual | 5,5 - 6,5 anos (machos) |
Longevidade | 34 anos (em cativeiro) |
O panda-gigante é um mamífero que come bambu (folhas) de cor preto e branco. A pelagem é grossa e lanosa para suportar as baixas temperaturas no ambiente subalpino em que vive. As manchas oculares, membros, orelhas e uma faixa que atravessa os ombros são negras; alguma vezes com um tom amarronzado.26 O restante do corpo é branco, mas pode se tornar "encardido" com a idade. A população da região de Qingling apresenta a pelagem em dois tons contrastantes de marrom.24
O crânio e a mandíbula são robustos, a crista sagital é bem desenvolvida, e os arcos zigomáticos são expandidos lateralmente e dorsoventralmente, assim como nos demais carnívoros arctóideos. Difere dos outros ursídeos, por apresentar a fissura orbitária confluente com o forame redondo, os processos pós-orbitais são reduzidos, e o canal alisfenóide é ausente. Apresenta o forame intepicondilar, uma características primitiva, somente compartilhada com oTremarctos ornatus.7
Apesar de pertencer à ordem dos Carnívoros e ter um sistema digestivo e genético de carnívoro, o panda possui hábitos herbívoros, alimentando-se quase que exclusivamente das folhas de bambus. O panda gigante consome, em média, de 9 a 14kg de bambu por dia 27 , mas devido à pouca absorção de nutrientes, característica de seu sistema digestivo ineficiente, ele precisa passar a maior parte do dia comendo e se exercitando pouco.28 Pandas podem se alimentar de 25 diferentes espécies de bambus, mas a devastação das florestas limitou-os a pouca variedade em lugares mais íngremes, elevados e isolados da Ásia central. As folhas de bambus são ricas em proteínas e os brotos também possuem boa quantidade.29 Apesar de manterem as presas, garras, capacidade digestiva e força para caçar pequenos mamíferos, aves, peixes e ovos, pandas raramente o fazem.30 Sua digestão de celulose depende de sua flora intestinal, sendo sua genética desfavorável. 31
Ainda que o bambu seja rico em água (40% de seu peso, chegando a 90% no caso de brotos), o panda bebe frequentemente água de riachos ou neve derretida.
Em cativeiro sua dieta consiste em bambu, cana-de-açúcar, mingau de arroz, biscoito especial rico em fibras, cenoura, maçã ebatata-doce.
Os pandas gigantes são geralmente solitários. Cada adulto tem um território definido e as fêmeas não são tolerantes com outras fêmeas em seu território.32Pandas se comunicam através de vocalização e marcam território aranhando árvores e urinando nas suas fronteiras. 33 O panda gigante é capaz de escalar e usar como refúgio árvores ocas ou fendas de rochas, mas não estabelece tocas permanentes. Por esta razão, os pandas não hibernam, o que é semelhante ao hábito de outros mamíferos subtropicais da região, que preferem se deslocar para regiões e altitudes com temperaturas mais quentes.34 Pandas utilizam mais da memória espacial do que da memória visual. 35
A época de reprodução dá-se na Primavera, quando os machos competem pela fêmea fértil. A gestação é em média de 135 dias. Normalmente nascem um ou dois filhotes. Devido à natureza frágil e delicada dos ursinhos, a mãe opta por criar um único filhote. O filhote rejeitado é abandonado à morte. O desmame dá-se com um ano de idade, mas o panda já é capaz de ingerir o bambu em pequenas quantidades desde os seis meses. O intervalo entre as ninhadas é de dois anos ou mais.
Somente 10% dos pandas em cativeiro conseguem cruzar naturalmente. Apenas 30% das fêmeas engravidam. Mais de 60% dos pandas cativos não demonstram qualquer desejo sexual.
A expectativa de vida de um panda é de 13 anos. Em 2005, Basi, uma ursa panda chinesa, comemorou 25 anos de idade, que se comparam a 100 anos humanos. No mesmo ano, o panda criado em cativeiro mais velho do mundo, uma fêmea chamada Meimei, morreu aos 36, equivalentes a 108 anos humanos, no jardim zoológico da cidade de Guilin.
A baixa taxa de natalidade, a alta taxa de mortalidade infantil e a destruição de seu ambiente natural colocam o panda sob ameaça de extinção. A caça não representa problemas devido às rígidas leis chinesas. Em 1995, um fazendeiro foi sentenciado a prisão perpétua por ter atirado em um panda. No ano seguinte, dois homens foram condenados a morte após serem presos portando peles de panda e macaco-dourado. A partir de 1997 passou-se a punir os infratores com uma pena de 20 anos de prisão.
Armadilhas para cervos-almiscarados e ursos-pretos muitas vezes acabam ferindo pandas.
O número de pandas selvagens na China está estimado em 1.596. Em 2000 contavam-se 1.114 exemplares, espalhados por territórios que têm uma superfície total de 23.000 km² nas províncias de Sichuan, Gansu e Shaanxi. Estudos em 2006, baseados em exame de DNA coletado em fezes, indicam que possam haver pelo menos 3.000 animais em liberdade. Existem 183 pandas-gigantes em cativeiro na China, 100 dos quais, estão em um centro especializado em Sichuan. Outros 20 espécimes se encontram distribuídos pelos principais zoológicos do mundo.
O ano de 2005 foi considerado um grande ano para os projetos em criação da espécie em cativeiro. 25 filhotes nascidos em zoológicos e centros de reprodução sobreviveram. Em 2004, foram 9 os filhotes sobreviventes.
Da xiong mao (大熊猫), o nome em chinês para o panda, significa grande urso-gato. Pode ser chamado também de huaxiong(urso de faixa), maoxiong (urso felino) ou xiongmao (gato ursino). Registros históricos de 3000 anos ("O Livro de História e o Livro de Canções", a coleção mais antiga da poesia chinesa), o mencionam sob o nome de pi e pixiu. A palavra panda significa algo parecido com "comedor de bambu".
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